Vai Aguentar a Residência? Como Sobreviver à Carga Horária do R1

A Pergunta Que Não Quer Calar

Você está prestes a começar a residência e a dúvida já apareceu: Será que eu vou aguentar? É natural. Todos ouvimos as histórias. Jornadas exaustivas, dias inteiros no hospital, plantões em sequência, pouco tempo para comer, dormir ou respirar. A carga horária da residência médica é puxada, sim. Mas é justamente por isso que ela se chama serviço de residência médica. Não se trata de direitos do residente, mas do compromisso com o aprendizado prático da profissão.

Uma Carga Diferente de Tudo que Você Já Viveu

É importante entender que essa carga não é igual à da faculdade. Estudar 40 horas por semana é muito diferente de trabalhar 40, 60 ou até 80 horas por semana no hospital. Plantões, ambulatórios, cirurgias, rotinas duras e cansativas, especialmente no início, exigem muito mais do que preparo técnico. Exigem resistência, adaptação e clareza de propósito.

Você vai trabalhar bastante, mas isso não é novidade. A novidade é a forma como essa rotina te desafia de maneira integral: fisicamente, mentalmente e emocionalmente.

Foi Você Quem Escolheu

Antes de qualquer desespero, lembre-se: ninguém te obrigou. Você escolheu essa carreira. Teve seis, sete, às vezes oito anos para pensar nisso. Quando decidiu ser ortopedista, anestesista, cirurgião ou qualquer outra especialidade, você sabia (ou pelo menos intuía) que o trabalho seria hospitalar, de contato direto com pacientes, com casos complexos, com cirurgias longas e cansativas.

Você não esperava passar os dias sentado em casa vendo imagens ou analisando lâminas. Não. Você escolheu uma especialidade de ação, e com isso veio a realidade: aprender tudo do zero.

O Início é Sempre Brusco

É assim mesmo. Na ortopedia, por exemplo, você entra sem saber operar. Mal sabe reduzir fraturas ou fazer uma imobilização correta. O choque de realidade é inevitável. O mesmo vale para oftalmo, otorrino e outras áreas em que a faculdade oferece pouco contato prático. É um novo mundo. Você sente que não sabe nada. E isso é absolutamente normal.

Nesse momento, a residência vai parecer maior que você. Plantões longos, ambulatórios intermináveis, procedimentos que você não domina. E você vai pensar em desistir.

Mas aqui está uma verdade valiosa: isso tem prazo para acabar.

Tudo Tem um Fim. Inclusive o R1

Uma das poucas coisas difíceis da vida com hora marcada para acabar é o R1. Você sabe quando começa e quando termina. Você tem uma data. E isso muda tudo.

É como atravessar uma ponte: você não pode chegar ao outro lado sem cruzar por ela. O primeiro ano é essa travessia. Em março do ano seguinte, a vida muda. O segundo ano traz nova escala, nova rotina. E, acredite, as coisas melhoram.

Um Dia Após o Outro

O maior erro que você pode cometer é passar o dia inteiro reclamando. Contando os dias para março, desabafando para todo mundo, esperando que o sofrimento acabe por si só. O resultado disso é que você perde a alegria de ser residente.

Sim, existe alegria nisso. Existe valor em viver cada dia de maneira inteira. Resolver o que precisa ser resolvido hoje. Se permitir dormir amanhã. Se permitir tentar de novo. Levar a vida um dia de cada vez. Aquele gesto que demorava 20 minutos vai sair em dois. Aquela imobilização difícil vai se tornar automática. Você vai se acostumar. Você vai crescer.

Dê a Si Mesmo 90 Dias

Os livros de hábitos não estão errados: em 90 dias, você pode mudar sua vida. Pode acordar cedo, correr, estudar, trabalhar, operar, evoluir. Três meses é o tempo de adaptação. Se ainda assim quiser desistir depois disso, tudo bem. Mas só depois disso.

Deixe a parte mais difícil passar. Deixe seu corpo e sua mente entenderem o que está acontecendo. Aguente até julho. Acredite: vale a pena.

Você Não É Um Animal: O Prazer Não É o Foco

Não estamos aqui para viver atrás de prazer o tempo todo. Não somos cães ou porcos buscando conforto e recompensa instantânea. A vida adulta, especialmente na medicina, exige mais: exige compromisso com a finalidade, e não com o bem-estar passageiro.

Você quer ser um grande ortopedista? Cirurgião? Anestesista? Intensivista? Não é o prazer diário que te levará até lá. É fazer o que precisa ser feito, dia após dia, mesmo sem vontade. Mesmo sem alegria. Mesmo com sono.

Tratar bem as pessoas só quando está de bom humor não é virtude. Trabalhar direito só quando tudo está calmo não é excelência. Virtude está em seguir firme mesmo no caos.

Fale Com o Espelho

Tudo isso que você leu aqui, fale para si mesmo. Em voz alta, se precisar. Diga para o espelho. Porque, no fim, quem precisa ouvir não são os outros. É você mesmo. Foi assim que muitos médicos passaram pelos momentos mais difíceis da residência: repetindo essas verdades até que se tornassem força.

Você escolheu estar aqui. Escolheu esse caminho. Então honre essa escolha com coragem, constância e paciência.

Vai passar. E quando passar, você vai ser exatamente quem sonhou ser.


Autor: Rômulo Oliveira
Médico pela EMESCAM (Santa Casa de Vitoria-ES), Cirugiao Geral pelo hospital Ipiranga SP, Cirurgiao Vascular pelo HEVV, Docente em Habilidades Médicas da Faculdade Multivix, Professor e fundador do PS ZERADO

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Ygor e Rômulo

O PS Zerado foi fundado em 2018, a partir do desejo de tornar o ensino médico mais prático, focando naquilo que de fato é relevante, para que médicos e estudantes de medicina, se tornem
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