O manejo do paciente com trauma cranioencefálico (TCE) exige decisões rápidas e seguras. Uma das principais dúvidas dos médicos na urgência é: quando realmente indicar uma tomografia de crânio? Vamos abordar cinco situações em que a solicitação desse exame é fundamental.
1. Trauma de Alta Energia
Antes de qualquer coisa, é essencial entender o mecanismo do trauma. Traumas de alta energia são indicações formais para a tomografia, conforme as diretrizes do ATLS. Isso inclui:
-Acidentes automobilísticos ou motociclísticos de alta velocidade;
-Vítimas sem cinto de segurança ou capacete;
-Quedas de altura superior a um metro, principalmente com impacto na cabeça;
-Traumas diretos com objetos pesados, como barras de ferro ou pedaços de madeira.
Se qualquer um desses fatores estiver presente, a tomografia deve ser considerada.
2. Alteração na Escala de Coma de Glasgow
A avaliação do paciente pela Escala de Coma de Glasgow é crucial. Se o Glasgow for menor que 15, a tomografia é recomendada. Um Glasgow de 14 pode indicar um processo patológico em evolução, e a imagem pode ser essencial para o acompanhamento.
3. Sinais de Hipertensão Intracraniana
Alguns sinais clínicos sugerem hipertensão intracraniana e justificam a tomografia. Pergunte ao paciente ou acompanhante se houve:
-Episódios de vômito (principalmente múltiplos episódios);
-Perda de consciência na cena do trauma;
-Convulsões após o evento;
-Cefaleia persistente, que não melhora mesmo após analgesia adequada.
Se qualquer um desses sinais estiver presente, a tomografia deve ser solicitada.
4. Uso de Anticoagulantes ou Antiagregantes
Pacientes em uso de medicamentos que interferem na coagulação sanguínea têm maior risco de hemorragias intracranianas. Certifique-se de perguntar se o paciente faz uso de:
-AAS (aspirina);
-Clopidogrel;
-Varfarina;
-Heparina;
-Rivaroxabana (Xarelto) ou outros anticoagulantes diretos.
Muitos pacientes não conhecem os termos técnicos, então uma abordagem mais simples, como “o senhor(a) toma algum remédio que afina o sangue?”, pode ser mais eficaz.
5. Pacientes Idosos
Em pacientes acima de 65 anos, qualquer trauma craniano deve ser avaliado com ainda mais cautela. A fragilidade vascular e a maior propensão a sangramentos justificam um alto índice de suspeição. Se houver sintomas, alterações no Glasgow ou qualquer sinal neurológico, a tomografia deve ser solicitada. Caso decida não pedir o exame, a observação rigorosa do paciente é essencial.
O Que Fazer Quando Não Há Tomografia Disponível?
Se você está em um local sem acesso à tomografia, avalie a possibilidade de encaminhar o paciente para um serviço mais equipado. Caso isso não seja viável, recomenda-se a observação rigorosa por pelo menos 12 horas. Se houver piora do estado neurológico durante esse período, a transferência se torna essencial.
Considerações Finais
O pedido de tomografia de crânio no trauma craniano deve ser sempre fundamentado em critérios clínicos bem estabelecidos. Os cinco fatores mencionados acima ajudam a guiar essa decisão e garantem um manejo seguro do paciente. Na dúvida, priorize sempre a segurança do paciente.
Referências
AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS®: Advanced Trauma Life Support®: Student Course Manual. 10. ed. Chicago: American College of Surgeons, 2018.
Autor: Ygor Minassa
Médico pela EMESCAM (Santa Casa de Vitória-ES), Cirurgião Geral pela Santa Casa de Vitória-ES, Cirurgião Vascular pelo HEVV, Docente em Semiologia da Faculdade Multivix, Preceptor da residência de cirurgia geral da Santa Casa de Vitória, Professor e fundador do PS ZERADO.