Manejo da Cefaleia no Pronto-Socorro

Manejo da Cefaleia no Pronto-Socorro

A cefaleia é uma das queixas mais comuns no pronto-socorro, frequentemente levando pacientes a buscar atendimento imediato. Mas, diante dessa demanda tão frequente, como garantir um atendimento rápido, eficiente e seguro? A resposta está em uma abordagem estruturada, que diferencie os casos graves daqueles benignos.

O Primeiro Passo: Anamnese e Exame Físico

O atendimento inicia-se com a queixa do paciente: “Doutor, estou com dor de cabeça”. Neste momento, é imprescindível realizar uma história clínica completa, que envolve uma investigação detalhada da doença atual e um exame físico com ênfase no sistema neurológico. Confira na tabela abaixo os principais aspectos avaliados durante a anamnese:

Aspecto AvaliadoDescrição
Tipo de dor e intensidadeCaracterização do tipo e da intensidade da dor apresentada.
Localização e irradiaçãoIdentificação do local de início da dor e se ela se irradia para outras regiões.
Sintomas associadosVerificação da presença de sintomas adicionais que possam orientar o diagnóstico.
Fatores de melhora/pioraDeterminação dos fatores que pioram ou melhoram o quadro.

Simultaneamente, o exame físico, principalmente com foco neurológico, é realizado para detectar possíveis sinais de alarme que possam indicar a necessidade de investigações mais aprofundadas.

Identificação de Fatores de Risco

Após a coleta dos dados iniciais, é fundamental identificar sinais que possam sugerir um quadro de cefaleia secundária, associado a condições mais graves, como acidente vascular encefálico, neoplasia ou meningite. A tabela a seguir apresenta os principais sinais de alerta:


Sinais de Alerta

Descrição
Mudança no padrãoPacientes com histórico de enxaqueca que apresentam uma dor diferente do habitual.
Cefaleia novaDor de cabeça surgindo pela primeira vez, principalmente em crianças e idosos.
Início súbitoDor que atinge o pico rapidamente (em poucos minutos), podendo indicar hemorragia subaracnóidea.
Alterações neurológicasPresença de déficits motores, sensoriais, alterações na visão ou no equilíbrio.
Idade acima de 50 anosMaior risco para condições secundárias, como neoplasias.
Sintomas sistêmicosIncluem febre, sinais de meningismo ou indícios de processos infecciosos.
Fatores desencadeantes específicosCefaleia que surge com esforço físico, piora quando o paciente está deitado ou desperta-o durante a noite.

A identificação desses fatores orienta a decisão de aprofundar a investigação por meio de exames complementares.

Exames Complementares na Suspeita de Cefaleia Secundária

Quando os sinais de alerta são identificados, a investigação deve ser intensificada com exames que possam confirmar ou descartar condições graves. A seguir, veja uma tabela com os principais exames complementares e suas indicações:

Exame ComplementarIndicação
Tomografia de crânio sem contrasteAvaliação inicial para identificar alterações estruturais no cérebro.
Punção lombarIndicada na suspeita de meningite ou hemorragia subaracnóidea.
Sorologias e provas inflamatóriasTestes como PCR e VHS para investigar quadros infecciosos ou processos autoimunes.

Esses exames ajudam a direcionar a investigação, possibilitando um diagnóstico preciso.

Diagnóstico de Cefaleia Primária

Caso os exames de imagem não revelem alterações significativas e não sejam identificados sinais de alerta, a cefaleia é classificada como primária. Nesse cenário, as condições mais comuns são:

  • Cefaleia tensional
  • Cefaleia em salvas
  • Enxaqueca (migrânea)

O diagnóstico diferencial é realizado com base nas características clínicas obtidas durante a anamnese, permitindo a definição de um tratamento específico para cada tipo.

Tratamento Direcionado e Avaliação da Resposta Clínica

Após o diagnóstico, o tratamento deve ser orientado conforme o tipo de cefaleia identificado. Cada condição possui uma abordagem terapêutica específica, que pode incluir o uso de medicamentos e, no caso da cefaleia em salvas, a oxigenoterapia. A resposta ao tratamento é reavaliada aproximadamente duas horas após sua administração, considerando-se satisfatória uma melhora superior a 50% dos sintomas. Se o quadro apresentar refratariedade ou deterioração clínica/neurológica, a investigação deve ser intensificada com novos exames e ajustes no manejo.

Considerações Finais

A avaliação e o manejo da cefaleia no ambiente de PS exigem uma abordagem sistemática, que passa pela realização de uma anamnese completa, um exame físico rigoroso e a identificação criteriosa dos fatores de risco. O uso de exames complementares, quando necessário, permite diferenciar quadros benignos dos que podem evoluir para condições graves, garantindo um atendimento seguro e de qualidade. Assim, adotar uma metodologia estruturada é essencial para oferecer um cuidado eficaz, sempre priorizando o bem-estar do paciente. 

Referências: 

Hajjar LA. Medicina de emergência: abordagem prática [Internet]. 18 ed. Barueri: Manole; 2024 [citado em 06 de fevereiro de 2025]. pág. 369. 

Sociedade Brasileira de Cefaleia. Classificação Internacional das Cefaleias – 3ª Edição. [Internet]. Brasília: Sociedade Brasileira de Cefaleia; 2018. [citado em 2023 Out 10]. 

Speciali JG, Kowacs F, Jurno ME, Bruscky IS, Freitas de Carvalho JJ, Moraes Fantini FGM, et al. Protocolo Nacional para Diagnóstico e Manejo das Cefaleias nas Unidades de Urgência do Brasil – 2018. Brasília: Academia Brasileira de Neurologia; Sociedade Brasileira de Cefaleia; 2018.

LOSCALZO, José; FAUCI, Anthony S.; KASPER, Dennis L.; e outros. Medicina Interna de Harrison . 21. ed. Porto Alegre: AMGH, 2024. E-book. pág.112. ISBN 9786558040231. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786558040231/. Acesso em: 07 fev. 2025.
Gusso G, et al. Tratado de medicina de família e comunidade – 2 volumes: princípios, formação e prática. 2ª edição. Porto Alegre: Grupo A; 2019. Disponível em: Minha Biblioteca.


Autor: Tammer Ferreira Zogheib
Médico pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Clínico Geral pelo Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV), Médico das Unidades de Internação do Vitória Apart Hospital, Docente no curso de Medicina da Faculdade Multivix Vitória-ES, Professor do PSZerado.

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