Manejo da Anafilaxia em Pediatria: Condutas Essenciais

A anafilaxia é uma emergência médica que exige uma abordagem rápida e precisa, especialmente em crianças. Saber reconhecer e tratar esse quadro pode ser a diferença entre a vida e a morte do paciente. Neste guia, abordaremos as condutas essenciais para o manejo adequado da anafilaxia em pediatria.

Os Quatro Pilares do Manejo da Anafilaxia

O tratamento da anafilaxia pediátrica se baseia em quatro pilares fundamentais:

  1. Administração rápida de adrenalina intramuscular
  2. Uso adequado da oxigenoterapia
  3. Decúbito dorsal com membros inferiores elevados
  4. Manutenção da volemia

Se você memorizar essas quatro condutas, o manejo da anafilaxia se tornará mais intuitivo e eficaz.

Passo a Passo do Manejo da Anafilaxia

Avaliação Inicial

Como em qualquer emergência, inicie com a avaliação dos sinais vitais do paciente utilizando a abordagem ABCD:

  • A – Via aérea (Airway)
  • B – Respiração (Breathing)
  • C – Circulação (Circulation)
  • D – Estado neurológico (Disability)

Se for necessário intervir imediatamente, siga os próximos passos sem demora.

Administração de Adrenalina

A adrenalina é a medicação mais importante no tratamento da anafilaxia. Muitas vezes, há resistência em utilizá-la, mas seu uso precoce é essencial.

Dose e via de administração:

  • Solução 1:1000 (1mg/ml)
  • Dose: 0,01 mg/kg (máximo de 0,3 mg)
  • Via: Intramuscular, na face anterolateral da coxa

Se os sintomas persistirem, a dose pode ser repetida a cada 5 a 15 minutos, mas monitorar a toxicidade (frequência cardíaca).

Reposição Volêmica

A expansão volêmica é crucial para manter a estabilidade hemodinâmica do paciente:

  • Solução: Soro fisiológico 0,9% ou Ringer lactato
  • Dose inicial: 5 a 10 ml/kg nos primeiros 5 minutos
  • Meta: Até 30 ml/kg na primeira hora

Atenção! Sempre monitore pulso e pressão arterial ao administrar fluidos.

Oxigenoterapia

A suplementação de oxigênio deve ser feita nos casos de saturação ≤ 95%.

Se a saturação não melhorar ou continuar caindo, pode ser necessário repetir a dose de adrenalina. Além disso, a presença de broncoespasmo (sibilos no exame físico) pode exigir o uso de um beta-2 agonista.

Uso do Beta-2 Agonista

Caso haja broncoespasmo associado à anafilaxia, o salbutamol pode ser administrado:

  • Dose: 50 mcg/kg por dose (aproximadamente 1 jato para cada 2 kg)
  • Dose máxima: 10 jatos
  • Via: Inalatório

O uso do beta-2 agonista deve ser restrito a pacientes que apresentem broncoespasmo, pois ele não trata a anafilaxia em si.

Condutas Controversas: O Que Evitar?

Anti-histamínicos

Os anti-histamínicos não são eficazes para reverter a anafilaxia e não devem atrasar o uso da adrenalina. Seu uso pode aliviar o prurido, mas não previne obstrução de via aérea, choque ou hipotensão.

Caso seja utilizado, pode-se optar por:

  • Difenidramina ou prometazina – 1 mg/kg IM ou IV (máximo de 50 mg)

Glicocorticoides

Os corticoides não substituem a adrenalina e não devem ser usados isoladamente no manejo agudo da anafilaxia. Seu principal papel é reduzir o risco de resposta bifásica, um novo episódio de anafilaxia que pode ocorrer após a resolução inicial. Por isso é prescrito também na alta hospitalar.

Opções de corticoides:

  • Prednisolona VO: 1 mg/kg/dia
  • Metilprednisolona IV: 1 a 2 mg/kg/dia

Medicações para Uso Domiciliar e Acompanhamento

Após a estabilização do paciente, ele pode receber alta com recomendações para evitar novos episódios:

  1. Prednisolona oral por 5-7 dias – Ajuda a evitar uma nova crise
  2. Anti-histamínico de segunda geração por 7 dias – Preferir opções como desloratadina ou fexofenadina
  3. Encaminhamento ao especialista – Para investigação das causas da anafilaxia e prevenção de novos episódios

Doses de Anti-histamínicos de Segunda Geração

  • Desloratadina: A partir dos 6 meses – 2 mL 1x/dia
  • Fexofenadina: A partir dos 6 meses – 2,5 mg 2x/dia

Os anti-histamínicos de segunda geração são preferíveis aos de primeira geração, pois não atravessam a barreira hematoencefálica, reduzindo efeitos como sonolência e risco de toxicidade.


Autor: Matheus S. Fassarella
Médico pela Faculdade Multivix, Pediatra pela Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Preceptor de Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Infantil de Vitória (HINSG) e professor do PS Zerado.

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