Hambúrguer gourmet. Brigadeiro gourmet. Salão gourmet. Supermercado gourmet. Colocar nomes sofisticados em coisas que já existiam com o objetivo de encarecer o produto é uma prática recente que, cada vez mais, ganha espaço no nosso cotidiano.
Porém, como tudo na vida tem um limite, aqui também deveria haver um. E a verdade é que ele foi ultrapassado.
Medicina Não Precisa de Sobrenome
A medicina não precisa de sobrenome. A medicina bem feita, por si só, tem um valor inestimável, pois lida diretamente com vidas. Quanto você pagaria pela sua vida?
Não existe “Medicina Humanizada”. É intrínseco ao médico ser humano. Não existe “Medicina Integrativa”. É dever do médico integrar todos os aspectos da vida e da saúde do paciente no seu cuidado.
Infelizmente, o marketing médico, que deveria ser construído na base da indicação boca a boca — fruto de um profissional que escuta, conversa, explica e acolhe —, cedeu lugar à “gourmetização” da medicina. Isso levanta uma preocupação sobre onde estamos e onde chegaremos.
A Perda da Essência na Profissão
Ficou fácil se diferenciar da maioria, porque muitos profissionais perderam a sensibilidade de reconhecer, no outro, a dignidade da pessoa humana. A vida é inviolável, um dom divino.
No entanto, o individualismo na profissão e a busca pelo próprio “eu” e pelo prazer próprio têm substituído o Sacerdócio Médico. Aquilo que era comum — tirar de si para dar ao outro — vem sendo substituído pela frieza e pela ambição por dinheiro e status a qualquer custo, justamente entre os profissionais que menos deveriam agir assim.
Técnicas como “soroterapia”, “hormonioterapia” e reposições de íons, vitaminas e nutrientes sem sentido e sem base em evidência só servem para criar novos nomes para supostas “especialidades”.
O objetivo único parece ser conquistar a confiança inocente do leigo, que, como uma criança que se joga no colo dos pais, confia no médico porque “ele é dotô”. O resultado é uma desumanização do que deveria ser, por essência, humanizado.
O Verdadeiro Significado de Ser Médico
Bastaria dizer — ou deveria bastar —: “Sou médico, vim para te atender”. Isso deveria ser suficiente para explicar tudo.
Ser humano e cuidar integralmente é um juramento feito na formatura, repetido desde o início do sonho de ser médico.
É triste perceber que estamos perdendo a essência da medicina, a ponto de termos que fazer mais do que o básico para nos diferenciar. A verdade é que não existe “Medicina Humanizada e Integrativa”. Existe apenas a Medicina.
Um Chamado aos Estudantes e Recém-Formados
Aos estudantes de medicina e recém-formados, fica o apelo: em cada atendimento, vejam a alma da pessoa à sua frente em sua integralidade.
Não brinquem com a confiança depositada em vocês.
Na Foto: A Vida Real
A imagem retrata a realidade: uma alma deitada em um leito, cuja responsabilidade é divina, mas confiada temporariamente aos cuidados de outro.
Respeitar a dignidade humana é o primeiro passo para ser, de fato, um médico.
(Foto tirada por mim, com rostos e logos sem identificação.)
Autor: Tammer Ferreira Zogheib
Médico pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Clínico Geral pelo Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV), Médico das Unidades de Internação do Vitória Apart Hospital, Docente no curso de Medicina da Faculdade Multivix Vitória-ES, Professor do PSZerado.